terça-feira, 24 de novembro de 2009

Entrevista a Sérgio Alprende, 2009

“Em função do encontro dedicado à Nouvelle Vague Japonesa, publicamos agora uma entrevista exclusiva com Sérgio Alpendre, que editou a revista Paisà e atualmente é crítico de cinema da Contracampo. Ele promove, ao lado de Francis Vogner dos Reis e Luiz Carlos Oliveira Jr., o curso Panorama do Cinema Japonês e também escreve no blog chip-hazard.

Qual seriam as principais características da ruptura chamada de ‘Nouvelle Vague’ Japonesa? Essa ruptura é bem demarcada?

Revendo os filmes agora, não sei se dá para identificar uma ruptura. Talvez em alguns filmes, de alguns diretores. Oshima, Suzuki, aí sim existe uma ruptura. Mas Imamura, por exemplo, que é o melhor diretor dessa geração da Nuberu Bagu (apesar de não se identificar como parte do movimento), explora o enquadramento scope como Naruse explorava desde o final dos anos 50. Em alguns filmes mais radicais do Oshima, do Suzuki e do Yoshida temos, sim, uma certa ruptura, principalmente na segunda metade dos anos 60, quando os dois últimos começaram a brincar com o desenquadramento. Suzuki extrapolou com A Marca do Assassino. Yoshida chegou no limite com Purgatório Eroica. Aí podemos dizer que houve uma ruptura com o cinema clássico.

Ao que os cineastas do Japão assistiam? E o que guiava a intenção das produtoras de cinema japonesas na época?

Essa geração via muito cinema americano. Alguns mais intelectualizados, como o Yoshida, mergulhavam na Nouvelle Vague. Mas o cinema americano me parece ter um peso maior, como podemos ver nos filmes do Shinoda, do Imamura, mesmo do Oshima.

O que as produtoras queriam era um meio de concorrer com a televisão. Por isso investiram em diretores mais jovens, dando maior liberdade para eles. Tudo começou com a Shochiku, que permitiu as experiências de Oshima, Shinoda e Yoshida, o núcleo da Nuberu Bagu.

Existe uma sintonia formal e temática com os cinemas novos ocidentais?

Existe. Principalmente com o filme B americano e com a Nouvelle Vague.

O personagem feminino é elemento marcante no cinema japonês. Há alguma mudança na retratação do drama feminino a partir do cinema novo?

Há uma mudança principalmente nos filmes do Imamura, que era um grande admirador de Mizoguchi (percebe-se isso em seu cinema). Mas suas mulheres não aceitavam o sofrimento, como as de Mizoguchi. Elas revidavam, combatiam a brutalidade dos homens. Exemplo perfeito disso está em Todos Porcos.

Há alguma cineasta fundamental daquele período que não é considerado dessa ruptura? alguém que surgiu nos anos 60, mas não acabou englobado como nouvelle vague japonesa?

Tem o Kobayashi, que fez seus principais filmes nos anos 60. Tem também o Sugawa, que era sensacional. Fora eles, lembro, de cabeça, de Okamoto, Shindo, mas tem muitos mais…

O que tem o cinema de Teshigahara, Oshima, Imamura, Hani e Yoshida que o cinema de Ozu, Mizoguchi, Kurosawa, Naruse não tem? Há uma ruptura forte entre o cinema clássico japonês e o cinema moderno?

Não acredito que haja uma forte ruptura. Há um prosseguimento. Naruse já tinha mudado bastante seu cinema durante a década de 50, principalmente na adaptação ao formato scope. Pode haver uma adequação aos novos tempos. Mas Mizoguchi, principalmente, continuou a ter um peso muito forte para esse pessoal mesmo que eles não reconhecessem.

Qual a referência desses filmes para o cinema japonês (e oriental como um todo) contemporâneo?

Eu vejo muita influência da Nuberu Bagu nos filmes do Wong Kar-wai, por exemplo. Em alguns policiais de Hong Kong também.

Para temrinar, você poderia fazer um top 10, ou dizer os filmes essenciais ou seus favoritos da ‘Nuberu Bagu’?

Ampliando o termo, e incorporando cineastas que não se consideravam da Nuberu Bagu, chego à seguinte lista de favoritos pessoais:

1) Desejo Assassino, Shohei Imamura
2) A Mulher das Dunas, Hiroshi Teshigahara
3) Tóquio Violenta, Seijun Suzuki
4) Noite e Névoa no Japão, Nagisa Oshima
5) Todos Porcos, Shohei Imamura
6) Eros + Massacre, Yoshishige Yoshida
7) O Profundo Desejo dos Deuses, Shohei Imamura
8) Flor Seca, Masahiro Shinoda
9) Um Trato em Canção Japonesa Pornô, Nagisa Oshima
10) As Termas de Akitsu, Yoshishige Yoshida”

In http://cine-f.blogspot.com/2009/10/entrevista-com-sergio-alpendre.html

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